Presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Rodrigo Navarro, identifica a seguir oportunidades para a evolução do setor com o fomento de demanda e o estímulo à inovação, provocados pelas iniciativas envolvendo Indústria 4.0, o que é conhecido como “Canteiro 4.0” ou construção industrializada.

Qual a sua avaliação do setor da construção civil, mais especificamente da indústria de materiais? 

Rodrigo Navarro – setor da construção civil é um dos mais importantes do país, dada a sua sinergia com a economia, a capacidade de geração de empregos, a atração e promoção de investimentos e o fomento à inovação. A cadeia produtiva da construção representa 7,5% do PIB brasileiro. Desse percentual, a indústria de materiais detém aproximadamente 11%, algo como R$ 55 bilhões (dados da Fundação Getulio Vargas, de 2016). É também um setor com alto potencial de melhoria da competitividade e produtividade em termos globais, conforme indicam vários estudos, como os da Mckinsey, do World Economic Forum e da própria FGV.

Esse potencial também se estende ao setor no Brasil?

Navarro – Sim, porque há muito a ser feito. Essas melhorias, em linha com o que ocorre em outros setores, têm estreita ligação com os avanços tecnológicos. No caso específico do setor de materiais de construção, temos bons exemplos, como as smart cities e a Estratégia Nacional de Disseminação do BIM (Building Information Modelling), recentemente aprovada pelo governo federal, que contou com nossa contribuição em grupos de trabalho, juntamente com nove ministérios e outras instituições.

O processo de desindustrialização do país também atinge o setor de materiais de construção?

Navarro – Segundo nossos levantamentos, 65% das empresas indicam a realização de investimentos nos próximos 12 meses, porém, mais voltados à modernização do parque industrial do que à expansão da capacidade produtiva. Isso ocorre principalmente em função da diminuição da demanda nos últimos anos. Com a recuperação da economia, as empresas estarão prontas para esse cenário do ponto de vista de processos e tecnologias, podendo ajustar sua produção, quando necessário, para atender a uma demanda crescente.

Como a cadeia da construção civil brasileira é impactada por esse processo?

Navarro – É um processo de adequação. Esse equilíbrio entre maximização do uso da capacidade instalada e a modernização das instalações é buscado por todos. No caso da indústria de materiais, nossos dados indicam que o nível de utilização da capacidade instalada foi de aproximadamente 70% no último ano. Nossa expectativa é de fechar 2018 com um número mais positivo. Desde o início do ano, temos mantido essa previsão em +1,5%, ressaltando sempre que fatores externos podem provocar solavancos nesse processo.

Qual é a atual conjuntura do setor de materiais? O mercado “formiga” continua puxando seu faturamento?

Navarro – As vendas para o varejo continuam, desde o final de 2017, puxando o faturamento da indústria de materiais de construção. No segundo semestre de 2018, esperamos uma contribuição maior das vendas para as construções imobiliárias residencial e comercial. Já no caso das vendas para obras de infraestrutura, é aguardada uma recuperação somente em 2019, já com o novo governo.

Quais as políticas e ações serão desenvolvidas em sua gestão na Abramat?

Navarro – Estamos trabalhando em duas frentes. A primeira, cuidando do que está na base: conformidade técnica, conformidade fiscal e capacitação. São três pilares essenciais e, sem eles, não há como avançar. Precisamos cuidar muito disso ainda. Por exemplo, há problemas como fabricantes produzindo ou importando e revendedoras comercializando produtos não conformes e consumidores adquirindo esses materiais.

Há outras preocupações?

Navarro – Ao mesmo tempo em que cuidamos dessa base, temos de nos preocupar com o fomento de demanda e estímulo à inovação. Nesse âmbito, estamos trabalhando para a efetiva inclusão do setor nas iniciativas envolvendo Indústria 4.0 e um ambiente regulatório adequado para isso. Um exemplo são as iniciativas envolvendo o que chamamos de “Canteiro 4.0” ou construção industrializada. Já temos um grupo de trabalho que reúne vários associados, para fazer diagnósticos e buscar dados, informações e benchmarks que apoiem as conclusões obtidas. E, sobretudo, para oferecer propostas concretas para resolver as questões identificadas.

O que o setor espera para a economia no restante do ano?

Navarro – Esperamos que 2018 seja um ano de preparação para uma recuperação. Estamos vindo de quedas no faturamento deflacionado acumulado, comparado com o mesmo período do ano anterior, de -7,2% em 2015, -13,5% em 2016 e -3,2% em 2017. Nossa expectativa é de fechar 2018 com um número positivo. Desde o início do ano temos mantido essa previsão em +1,5%, ressaltando sempre que fatores externos podem provocar solavancos nesse processo. A recente greve dos caminhoneiros, o patamar mais alto do dólar e o processo eleitoral são alguns exemplos. Ainda assim, independentemente de ‘ficar na torcida’, estamos trabalhando muito para que a economia tenha um crescimento sustentável e, por conseguinte, o nosso setor também.

https://www.hubi40.com.br/industria-de-materiais-de-construcao-civil-se-prepara-para-a-retomada-da-economia/

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