Um estudo da Federação de Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (FecomercioSP), obtido com exclusividade pela Vejinha, mostra que a pandemia da Covid-19 mudou a dinâmica do varejo paulista
SETOR A SETOR
Apesar da pandemia, o varejo se saiu melhor em 2020 no estado de São Paulo do que a média dos cinco anos anteriores. O faturamento de todos os setores foi de 816 bilhões de reais, enquanto no período de 2015 a 2019, foi, em média, de 723 bilhões de reais por ano. Mas esse crescimento teve endereço certo: quem abocanhou a maior parte do dinheiro extra foram os supermercados. “Isso foi em função principalmente do auxílio-emergencial”, explica o assessor econômico da FecomercioSP, Altamiro Carvalho.
De todas as vendas do comércio varejista, 36,5% ocorreram nos supermercados, que arrecadaram 55 bilhões de reais a mais em 2020: foram de 243 bilhões de reais de faturamento anual (média 2015-2019) para 298 bilhões. Mas quem também se destacou em terras paulistas foi o setor de materiais de construção civil e o de lojas de móveis e decoração, que registraram o maior índice de crescimento no total das vendas do varejo.
- Construção civil (alta de 19,8%): faturamento de 67 bilhões em 2020 (17 bilhões a mais do que a média anual de 2015-2019)
- Móveis e decoração (alta de 13,5%): faturamento de 13,2 bilhões em 2020 (2,8 bilhões a mais do que a média anual de 2015-2019)
“Com o isolamento, e as pessoas economizando em turismo e lazer, procuraram fazer reformas com a sobra de recursos e também se adaptaram ao home office. Isso, claro falando de classe média, obviamente”, diz Carvalho.
Em compensação, quem mais encolheu em São Paulo foi o setor de lojas de vestuário, tecidos e calçados (-24% no total das vendas), seguido do setor de concessionárias de veículos (-20,3%). “Vestuário foi o mais trágico. E é grave: é o setor que tem o maior nível de empregabilidade”, explica o assessor econômico.
- Lojas de vestuário, tecidos e calçados: faturamento de 50 bilhões em 2020 (8,3 bilhões a menos do que a média anual de 2015-2019)
- Concessionárias de veículos: faturamento de 75 bilhões em 2020 (8,5 bilhões a menos do que a média anual de 2015-2019)
MÊS A MÊS
2020 bagunçou as tendências dos últimos cinco anos nas vendas do varejo. Fevereiro, por exemplo, mês do ano com o menor número de dias, não teve o pior desempenho em vendas como de costume. “Abril ganhou essa posição, o mês em que começaram as restrições”, diz Altamiro Carvalho.
Fevereiro ficou então em 10º no ranking mês a mês na participação do total de vendas de 2020, com 7,7%. Abril, o pior, teve 6%. Os meses do segundo semestre dominaram o topo: dezembro (10,7% das vendas), novembro (9,6%), outubro (9,4%) e setembro (8,7%). O segundo semestre teve o maior nível de flexibilização do Plano São Paulo, o que impulsionou o comércio.
Entre 2015-2019, dezembro e novembro também figuraram como os meses de melhor desempenho. Mas maio, por exemplo, que ganhava destaque com o Dia das Mães, teve desempenho fraquíssimo: em 2015-2019, maio ficava em 6º lugar no volume de vendas e em 2020, caiu para 11º.
“Maio era sempre o melhor mês do primeiro semestre, por conta do Dia das Mães, data que no ano passado praticamente não existiu”, afirma Carvalho.
VARIAÇÃO SAZONAL
Apesar de maio ter sido um fiasco, teve a maior variação sazonal do ano (aumento de vendas em relação ao mês anterior). O motivo é simples: em abril, a maior parte do comércio estava fechada e em maio de 2020 houve uma flexibilização, fazendo com que o mês tivesse um desempenho 15,4% melhor do que abril.
Entre 2015-2019, essa posição era do mês de dezembro, que contava com o maior crescimento do ano em relação ao mês anterior. Resumindo: 2020 foi um caos também para as estatísticas. “Foi totalmente distorcido. O que eu vejo como economista: para as projeções dos próximos anos, a gente deve eliminar 2020!”, finaliza Altamiro.
Avaliações