O surgimento de fissuras, mesmo milimétricas, é um fenômeno frequente e indesejável na construção civil porque pode reduzir a vida útil dos materiais e até comprometer parte ou toda a edificação. A pesquisadora da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Nicole Schwantes Cezario faz parte do conjunto de cientistas que procura uma solução para este problema. A pesquisa tem contado com recursos do Programa Sinapse da Fundação Araucária, obtidos em edital, no valor de R$ 40 mil.
Graças também à colaboração da Microbiologia da UEL, amostras isoladas da bactéria foram trazidas de cavernas da Amazônia, onde é naturalmente encontrada. E não apenas em ambientes como este – na Holanda e na Bélgica os estudos estão mais avançados e a bactéria até já é comercializada. Naqueles países, ela é usada em lajes e reservatórios, entre outros locais.
O que a bactéria faz, natural e involuntariamente, é criar cristais para melhorar as condições de seu próprio ambiente. Para isso, precisa de uma fonte de cálcio, ambiente alcalino e água.
É esta propriedade, nestas condições, que tem mostrado como a bactéria é eficiente no fechamento de fissuras. Nicole, que é engenheira civil, demonstrou que uma fissura de 0,2 milímetros de largura foi fechada em 63 dias. Ela conta que fez testes com fissuras de até 0,4 mm, e que em outros países existem estudos de fissuras ainda maiores.
Na variação dos três fatores, a pesquisa mostrou que a diminuição da umidade resulta numa autocicatrização menos eficiente. E se a quantidade de cálcio é reforçada, potencializa a ação do microrganismo.
Para a professora Berenice Martins Toralles (Departamento de Construção Civil/CTU), orientadora de Nicole, há muitas outras vantagens em utilizar uma bactéria. “Existem produtos químicos, mas a bactéria, como material biológico, é mais recomendável, porque é uma substância não manipulada, é ambiental, sustentável, e não causa dano nenhum à saúde”, afirmou.
Outra vantagem é que a bactéria deixa o material cimentício menos poroso, ou seja, menos suscetível à infiltração de água.
De acordo com Nicole, a bactéria passou por um processo de secagem (liofilização) para ser transportada da Amazônia para Londrina. Para fins práticos como o manuseio e a comercialização, é interessante que esteja em pó, mas a pesquisa avança para utilizar o microrganismo numa solução aquosa. “A pessoa pode, então, borrifar em cima da fissura e esperar a bactéria agir”, afirmou.
APOIO – Desde o final de 2019, a pesquisa tem contado com recursos do Programa Sinapse da Fundação Araucária, obtidos em edital, no valor de R$ 40 mil. Com eles, os pesquisadores testaram outra bactéria de caverna isolada, fizeram experiências laboratoriais, testes de validação, entre outras ações.
Também conta com a assessoria da Aintec – Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Estadual de Londrina, onde está como incubada, e conseguiu mais recursos com o Programa Startup Match, também do governo estadual, para alocar pesquisadores, levando para o projeto um engenheiro e uma microbiologista, ambos mestres pela UEL.
A professora Berenice enfatiza a importância destes recursos, dos programas de financiamento e do investimento do Governo do Paraná em pesquisa. “É muito bom que o governo valorize e incentive outros pesquisadores a desenvolverem seus projetos”, disse.
Ela e Nicole também destacam as parcerias do projeto, que envolveu outros programas de pós-graduação, alunos de graduação (Iniciação Científica), vários laboratórios da UEL e professores da Microbiologia. “Os laboratórios são grandes parceiros”, afirmou Berenice. “E sem os professores da Microbiologia estaríamos na estaca zero”, completou Nicole.
Fonte: AEN
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